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Ela concorre com Mila Spook e Marcello Cavalcantti ao 'Oscar pornô brasileiro' , que acontece em 9 de outubro, em SP. Ao G1, ela falou sobre a carreira e produções adultas feitas por mulheres. A produtora e diretora de filmes pornôs Mayara Medeiros, a May, no Prêmio Sexy Hot 2015; participante do 'BBB12', ela se tornou em 2018 pioneira no 'Oscar do pornô brasileiro' ao ser indicada na categoria melhor direção, ao lado de Mila Spook
Celso Tavares/G1
Mayara Medeiros, a May, começou a trabalhar no mercado de filmes pornográficos em 2006. Primeiro, na função de produtora. Há três anos, passou a digirir seus próprios filmes. Nesta segunda-feira (3), tornou-se pioneira ao ser indicada na categoria Melhor Direção no 5º Prêmio Sexy Hot.
Nunca antes uma diretora havia disputado o chamado "Oscar do pornô brasileiro". Além de May, concorre outra mulher, Mila Spook, e Marcello Cavalcantti (veja indicados abaixo). A cerimônia de entrega acontece em 9 de outubro, em São Paulo.
"Eu achei inesperado (risos)", afirmou May em entrevista ao G1 por telefone. "Apesar de ser um trabalho contínuo – e era uma meta falar mais sobre o prazer feminino, sim –, a gente não esperava que fosse acontecer de fato."
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A diretora lembra que "há dez anos, não existiam mulheres atrás da câmera". Mas reconhece que havia a pretensão de ter "mais mulheres nos lugares de poder, para que realmente tivessem mais mulheres falando sobre prazer feminino, e não só homem falando sobre prazer masculino."
Vale lembrar que, por outro lado, o pornô é um ramo em que as atrizes ganham mais que os atores.
Embora se declare feminista, ela não usa o termo "pornô feminista" para falar de seus filmes. "Prefiro colocar sempre 'pornô feito por mulheres'", justifica. No Prêmio Sexy Hot 2018, a indicação veio pelo filme "Bruxas", da produtora XPlastic, na qual May trabalha há 12 anos.
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Aos 30 anos, Mayara Medeiros tinha 23 anos quando participou do "BBB12". Ela diz que passagem pelo programa ajuda no trabalho como produtora e diretora de filmes pornôs. "Deu experiência de lidar com as pessoas que super se expõem. Lidar com toda essa questão de ego. É uma coisa que aprendi vivendo isso na pele."
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
G1 – O que você achou da indicação pioneira, como direitora, ao Prêmio Sexy Hot 2018?
May Medeiros – Eu achei... Foi inesperado (risos). Eu não esperava que isso fosse acontecer, por mais que a gente tenha feito um trabalho de dez anos. Isso não foi algo que apareceu agora, não é algo do nada. Teve dez anos de esforço para que isso acontecesse.
"Há dez anos, não existiam mulheres atrás da câmera. É lógico que, quando se começa a pensar em mulher atrás da câmera em produções pornográficas, tem a pretensão de mais mulheres nos lugares de poder. Para que realmente tenha mais mulheres falando sobre prazer feminino. Para que não tenha só homem falando sobre prazer masculino."
A indicação foi muito inesperado por isso. Apesar de ser um trabalho contítuo – era uma meta que conseguir falar mais sobre o prazer feminino, sim –, a gente não esperava que fosse acontecer de fato.
É um reconhecimento do tabalho. Não só a indicação. Ser reconhecida em vários lugares é realmente muito importante.
G1 – Curiosamente, eventos como o Festival de Veneza estão sendo criticados e gerando protestos de feministas justamente pela ausência de mulheres na programação. O mercado pornô evitou isso desta vez?
May Medeiros – Acho que essa preocupação começou a existir a partir do momento em que algumas mulheres começar a reivinvindar esses espaços, de que não só homens deveriam falar sobre o prazer.
Quando mulheres reivindicam isso, os espaços começam a reconhecer.
"Porque a gente tem que entender que o canal Sexy Hot, como qualquer outro lugar, como Hollywood, vai sempre responder a uma demanda. É muito imporatne que o público reivindique seus gostos, sua preferências, o que sente que está faltando."
G1 – Por que acha que o seu filme 'Bruxas' rendeu a você a indicação a melhor diretora?
May Medeiros – Tem uma questão técnica, sim. A gente percebe – e não estou falando especificamente do meu trabalho, tem o da Les Chux – que tem uma questão técnica dessa nova escola.
"As mulheres que estão dirigindo agora e são da nova escola estão muito mais preocupadas e têm muito mais acesso a recursos de técnicas de cinema mesmo. Então, elas e os filmes acaba, correspondendo a algumas expectativas de premiação."
A expectativa do canal que tenha direção de fotografia, que é algo que a gente sabe se perdeu no pornô ao longo dos anos. No início, tinha essa preocupação, mas as produções foram sucateando ao longo do tempo, por uma série de questões, inclusive por problemas econômicos, de crise mesmo do pornô. Mas também a coisa do amador cresceu – isso continua tendo o seu lugar e deve continuar tendo.
A expectativa da premiação é obviamente de um filme que tenha mais trabalho técnico, roteiro, enquadramento, locação, que as coisas tenham coerência, que a história inteira faça sentido.
É lógico que vai ter ta,b[e, a premiação de algumas coisas como, sei lá, melhor boquete. Mas não é disso que estou falando agora – é de categorias como Melhor Filme, Melhor Direção...
G1 – Seu filme 'Bruxas' pode ser considerado um filme feminista?
May Medeiros – Cara, eu sou feminista. Não tem como eu fazer um filme que não levante questões, sabe?
"Não tem como pensar em roteiro de filme e não pensar em questões que são importantes para o universo feminino. Isso, para mim, é não reproduzir machismo. Isso vai acontecer em todos os meus filmes. É sempre uma tentativa constante de quebrar o nosso machismo, que é estrutural. A gente sabe que dá umas escorregadas, eu não sou perfeita, não é essa pretensão."
Mas, em todos os filmes, vou tentar sem sombra de dúvidas não reproduzir machismo. Mas isso acho que todo mundo deveria fazer.
"Sobre ser 'pornô feminista'... Eu não acho que um produto possa ser chamado de feminista – não existe molho de tomate feminista, filme feminista... Porque colocar um produtor colocar como 'pornô feminista'... Prefiro colocar sempre 'pornô feito por mulheres'."
G1 – Existe preconceito contra mulheres que são diretoras de filmes pornô, seja dentro do segmento ou fora?
May Medeiros – O universo pornô é mais tolerante.
"No começo, passei por certas situações que toda mulher passa em qualquer trabalho – não foi um privilégio meu. Você já ouviu mulheres falando que foram testadas sem necessidade. A partir do momento em que você é mulher, tem que provar duas vezes que é capaz de fazer as coisas. No começo passei mais, agora acho que as pessoas já me conhecem e a coisa está mais tranquila."
Agora, uma coisa que acontece com desavisados é que, a partir do momento em que eles sabem que você é mulher e trabalha com qualquer coisa relacionada a sexo, já acham que você está disponível para sexo.
G1 – Como assim?
May Medeiros – "Pois é. É o que me pergunto. Ontem, passei por essa situação assim. Um cara que estava falando comigo disse: 'Agora estou conversando com uma quase atriz pornô'. Eu falei: 'Não, cara, não! Nossa existe uma distância enorme entre mim e uma atriz pornô!'."
Nos primeiros anos do Prêmio Sexy Hot, acontecia com muita frequência com alguns caras mais velhos da pornografia, esses caras mais tradicionais, que não sabiam quem eu era. Eles chegavam e, independentemente da minha forma física, me olhavam e já chegavam à conclusão de que eu era uma atriz pornô. Afinal de contas, deviam pensar: "O que uma mulher estava fazendo ali?".
"Tem essa questão também: é mais um preconceito que precisa ser quebrado. Mulher tem uma pressão tão grande, uma repressão sexual tão grande que, a partir do momento em que ela se relaciona com qualquer coisa ligada a sexo, as pessoas já acham que ela está disponível."
Na premiação, quando acontecia, eu geralmente falava: "Nossa, obrigada pelo elogio!". Porque não tenho esses méritos.
A qeustão que a gente sempre tem que se fazer é: "Se fosse um homem no lugar de uma mulher, eu faria essa mesma mesma pergunta?". Se você não faria, então é violência de gênero, seja psicológica ou não. É misoginia de fato.
G1 – Quantas diretoras você conhece que trabalham com filmes pornôs no Brasil?
May Medeiros – Tem eu, a Les Chux, que fez agora o primeiro filme dela como diretora, o "5 para 1", da XPlastic. Ele foi indicado no Prêmio Sexy Hot 2018 em algumas categorias.
Tem a Mila Spook, que foi indicada. A Mayanna Rodrigues, que dirige e também é atriz. São poucas, se for pensar na quantidade de homens que dirigiem.
No Brasil, sei também que tem algumas mulheres fazendo trabalho com pós-pornô, qué outra categoria e não se enquadra tanto no pornô comercial.
G1 – Você se incomoda quando se referem a você sempre como 'ex-BBB'? Acha que já deu?
May Medeyros – Ah já, porque foi em 2012. Faz tempo. Mas não tenho nenhum problema, foi uma experiência importante para mim. Eu não assistia a TV, não era uma pessoa da TV, era uma pessoa da arte contemporânea. Nada a ver. Mas era uma menina achando que ia ajudar a família querendo ganhar dinheiro. Eu era muito novinha.
Com o "BBB", eu tinha ilusão que iria ganhar dinheiro – não era fama. Eu, de fato, não assistia a TV, não tinha noção da proporção daquilo. Quando saí, fiquei muito assustada.
O programa não correspondeu às minhas expecativas, porque minhas expectiva não era ficar famosa, era ganhar dinheiro para a minha mãe.
"Fora isso, o 'BBB' me deu experiência de lidar com as pessoas que super se expõem. Isso foi fundamental e me ajuda muito até hoje. Lidar com toda essa questão de ego e com superexposição, isso é uma coisa que aprendi vivendo na pele. Também me ajuda a ter uma empatia com as pessoas com quem trabalho. Sei o que é passar por determinadas situações."
Veja, abaixo, os indicados ao Prêmio Sexy Hot 2018:
Melhor Ator Hétero
Talmo, de "5 para 1" (selo: XPlastic)
Nego Catra, de "No íntimo do perverso" (selo: Fetishboxxx)
Titto Gómez, de "[Des] Conectados" (selo: Spook Show)
Melhor Atriz Hétero
Pamela Pantera, de "5 para 1" (selo: XPlastic)
Lilith Scarlett, de "Fantasias de Lilith Scarlett" (selo: Fita Safada)
Elisa Sanches, de "Negão do Zap" (selo: Gostosas Vídeo)
Melhor Atriz Homo Feminina
Patricia Kimberly, de "Garotas da van em reunião da diretoria" (selo: Garotas da Van)
Mila Spook, de "[Des] Conectados" (selo: Spook Show)
Sandy Cortez, de "As revelações de Sandy" (selo: HardBrazil)
Melhor Cena de Dupla Penetração
Isabella Martins, Capoeira, André Garcia e Felipe Black, de "Suruba das galáxias" (selo: XPlastic)
Monique Lopes, Hudson Carioca e Loupan, de "Dpravação" (selo: HardBrazil)
Elisa Sanches, Tony Tigrão e Cassio Reys, de "Um furacão chamado Elisa" (selo: WS)
Melhor Cena de Fetiche
Mayanna e Henker, de "Contos para quem odeia o Natal" (selo: XPlastic)
Aleksandra Yalova e Capoeira, de "Gordelícia com chocolate" (selo: Gordelícia)
Mia Linz e Ricardo, de "Cabine erótica" (selo: Mann Vídeos)
Melhor Cena de Ménage
Mila Spook, Pink Skull e Titto Gómez, de "[Des] Conectados" (selo: Spook Show)
Pamela Pantera, Ed Junior e Capoeira, de "Belas e safadas" (selo: Fita Safada)
Patrícia Kimberly, Marcos Sampaio e Rob, de "Encontro com os Fãs 2" (selo: HardBrazil)
Melhor Cena de Orgia/Gang Bang
Isabella Martins, Capoeira, André Garcia e Felipe Black, de "Suruba das galáxias" (selo: XPlastic)
Jota, Nego Catra, Patrícia Kimberly, Manu Fox e Sara Rosa, de "Garotas na van em festinha no trânsito” (selo: Garotas da Van)
Sandy Cortez, Patrícia Kimberly, Alessandra Marques, Loupan e Tony Tigrão, de "Carnated 2017" (selo: Hard Brazil)
Melhor Cena de Sexo Anal
Emme White e Yuri, de "Bruxas" (selo: XPlastic)
Elisa Sanches, Renan Cobra e Fabiano, de "Pousada para gostosas" (selo: WS)
Lilith Scarlett e Loupan, de "Fantasias de Lilith Scarlett" (selo: Fita Safada)
Melhor Cena de Sexo Oral
Aninha Galzerano e Adilson, de "Tesão por chocolate" (selo: Gostosas Vídeo)
Emme White e Yuri, de "Bruxas" (selo: XPlastic)
Mila Spook e Titto Gómez, de "[Des] Conectados" (selo: Spook Show)
Melhor Cena Homo Feminina
DreadHot e Mia Amaral, de "5 para 1" (selo: XPlastic)
Fernandinha Fernandez, Fabiane Thompson e Emme White, de "Serviço completo" (selo: Fita Safada)
Elisa Sanches e Sandy Cortez, de "As revelações de Sandy" (selo: HardBrazil)
Melhor Diretor
Mayara Medeiros, de "Bruxas" (selo: XPlastic)
Mila Spook, de "[Des] Conectados" (selo: Spook Show)
Marcello Cavalcantti, de "Traição consentida" (selo: Gostosas Vídeo)
Melhor Filme Hétero
"Serviço completo", com direção de Mayara Medeiros e Loupan (selo: Fita Safada)
"Traição consentida", com direção de Marcelo Cavalcantti (selo: Gostosas Vídeo)
"[Des] Conectados", com direção de Mila Spook (selo: Spook Show)
Revelação do Ano – Hétero
Danny Mancini, de "Serviço completo" (selo: Fita Safada)
Titto Gómez, de "[Des] Conectados" (selo: Spook Show)
Isabella Martins, de "Suruba das galáxias" (selo: XPlastic)
Revelação do Ano – LGBT
DreadHot, de "5 para 1" (selo: XPlastic)
Marcos Goiano, de "O barman caralhudo" (selo: Hot Boys)
Pink Skull, de "[Des] Conectados" (selo: Spook Show)